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Minha mãe é rocha

Dia desses eu conversei com a minha mãe. Nos telefonamos e falamos por uma hora sobre inúmeros assuntos e ela me contou coisas que contaria pra uma amiga. Pensando sobre isso depois, percebi que minha mãe confidencia coisas a mim e me conta seus problemas, seus medos, suas vivências, como igual. É uma honra tão grande ser colocada nesse lugar, como igual, como amiga, como confidente. Acho tão lindo quando percebo a maturidade do nosso relacionamento. Vejo como uma plantinha mesmo, que exigia muito cuidado, muita atenção, e que foi crescendo e se fortalecendo de um jeito que virou floresta. É tão bonito saber que eu não sou só filha, ela não é só mãe, e que a gente é amiga. Quantas horas já passamos papeando sobre a vida, e pensar nisso agora aquece meu coração. Sempre fico grata por essa relação, por essa família, e por esse amadurecimento que vivenciamos juntas. Pra falar a verdade, eu nem sei ao certo quando nosso relacionamento se tornou tão maduro, mas eu sou tão grata em ter minha

Libertina e depravada

Enquanto encarava o computador hoje, com uma maldita dor de cabeça, um café na mão, e a ansiedade e culpa que aparecem sempre que não consigo produzir tanto no trabalho, cheguei à constatação de que de repente, na minha vida, todo mundo virou um(a) parceiro(a) sexual em potencial. Daí eu poderia partir em diferentes caminhos: como semanas cheias de trabalho e eventos sociais me deixam exausta, por isso a dor de cabeça, mas insisto em me ocupar de todas as coisas do mundo; ou sobre minha teimosia em tomar café, mesmo sabendo que talvez (muito provavelmente) isso vá piorar a enxaqueca; ou como tenho uma relação estranha de evitar remédios a todo custo que me fez quase que amigar todas as dores; ou ainda, como minha mente funciona a todo vapor, numa mistura de aleatoriedades correndo pra lá e pra cá, feito pessoas que acabaram de entrar em uma loja de eletrodomésticos em plena black friday mas não fazem ideia do que querem comprar. Com muito esforço eu empurro todas essas possibilidades p

lindo e triste

Abri o bloco de notas do computador e escolhi a cor azul  porque azul é lindo e azul é triste como nós dois. Eu vejo beleza na nossa partilha vejo beleza na nossa crueza vejo beleza em ter sido tão nua, tão pura, tão eu com você Beleza no conforto da minha própria pele quando estava contigo. É bonito, e cômico, e trágico. Cômico no sentido de que vejo graça em sentir tanta liberdade pra ser quem era estando com outra pessoa cômico que essa sensação de liberdade esteja associada a outro alguém associada à você. Liberdade dependente.  E trágico, na tristeza do azul. Trágico no sentido de que agora é triste, e só.  É triste, e não é mais nada.

Saudade é dor sem remédio

Fim de domingo. Domingo é dia de saudade. Mas saudade é constante. Todos os dias eu sinto saudade. Eu acordo, todos os dias da minha vida, e sinto saudade. É tipo aquela dor de cabeça que eu sentia com frequência mas que não tinha remédio então eu tive que me acostumar a viver com ela ali. Saudade é dor sem remédio. Mas hoje, nesse fim de domingo, a saudade inflamou. Inflamou, doeu mais forte, escorreu pelos olhos, entupiu o nariz, fechou a garganta... Inflamou, doeu, sem remédio. Eu queria correr pra casa, cortar o continente, me jogar no mar, atravessar a nado... Eu queria correr pra casa chegar a tempo do café da tarde, deitar na rede que fica nos fundos receber carinho de minha mãe sentada na cadeira ao lado enquanto ouvimos meu pai cantar que la belle de jour era a moça mais linda de toda cidade. Eu queria correr pra casa e me jogar nos melhores abraços, sentir aquecer o coração e reforçar a base dos pés pra poder caminhar mais firme. Eu queria correr pra casa e acabar com essa dú

E se...?

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Estupidez. Você era tão tudo que eu admiro, que chega a ser cômico não saber quem você é hoje. Como é que uma história que eu me impedi de viver tanto tempo atrás segue me atormentando? Você me desafiava e me fazia querer ser mais Eu tinha um medo cego de você me perceber boba demais eu tinha um medo cego de você A gente nunca viveu o que tinha pra viver. Eu deixei você escapar tão fácil, eu acho que eu mesma te joguei fora, não dei chance Tantos anos depois e eu ainda penso o que poderia ter sido Se eu tivesse te deixado entrar e fazer parte de mim... Eu poderia te amar. Como é que uma história que eu me impedi de viver tanto tempo atrás segue me atormentando? Será que eu te atormento?
Não desiste de mim Frente às minhas peculiaridades e todas as dificuldades em lidar com o ser eu Frente às minhas falas erradas ou faltas do que falar Frente ao meu coração cheio de desapego me enfrente e não desiste de mim. Frente à minha vontade diária de sair correndo Frente ao meu desespero em falar pra mim, e pra ti, o quanto eu gosto de nós Frente à minha aversão a relacionamentos sérios Frente à minha visão conturbada, bonita e feia, certa e errada, singular de mundo enfrente meu mundo e não desiste de mim. Frente à minha individualidade Frente aos meus dramas Frente aos empecilhos que eu coloco na nossa frente, na minha mente enfrente meus próprios obstáculos e não desiste de mim. Frente à tanto que eu peço e pouco que ofereço Frente ao meu egoísmo Frente às dores que eu te trago sem querer enfrente a realidade de que nada em mim vale à pena, e desiste...

essa chuva

como todo o resto de tudo me faz pensar em você. é tudo tanto contigo eu te quero demais eu me sinto confortável demais eu confio demais e eu te quero mais um pouco eu te entendo quase nada me entendo menos ainda e nos entendo minimamente eu não sei parar de pensar você me assusta muito. Cada ato, cada palavra cada coisa de você parece muito bem premeditada Parece que cada pedaço de você foi muito planejado, pensado e repensado pra me deixar assim vulnerável. Você é perigoso feito uma bomba relógio embalada pra presente. Tudo na caixa me atrai pra perto até o tic-tac interior aguçando a curiosidade e quanto mais perto, maior o perigo; Você é perigoso feito uma bomba relógio embalada pra presente e eu não quero correr...