Libertina e depravada

Enquanto encarava o computador hoje, com uma maldita dor de cabeça, um café na mão, e a ansiedade e culpa que aparecem sempre que não consigo produzir tanto no trabalho, cheguei à constatação de que de repente, na minha vida, todo mundo virou um(a) parceiro(a) sexual em potencial.

Daí eu poderia partir em diferentes caminhos: como semanas cheias de trabalho e eventos sociais me deixam exausta, por isso a dor de cabeça, mas insisto em me ocupar de todas as coisas do mundo; ou sobre minha teimosia em tomar café, mesmo sabendo que talvez (muito provavelmente) isso vá piorar a enxaqueca; ou como tenho uma relação estranha de evitar remédios a todo custo que me fez quase que amigar todas as dores; ou ainda, como minha mente funciona a todo vapor, numa mistura de aleatoriedades correndo pra lá e pra cá, feito pessoas que acabaram de entrar em uma loja de eletrodomésticos em plena black friday mas não fazem ideia do que querem comprar. Com muito esforço eu empurro todas essas possibilidades pra um canto e tento focar no assunto sobre o qual eu queria escrever aqui: sexo.

A questão é que eu sempre fui uma pessoa muito sexual, mas nunca me dei liberdade nesse sentido. Ou nunca me deram, já que como mulher nos podam desde cedo. Pela minha experiência, sinto que a pílula veio feito uma tesourinha de poda e me impediu por anos de florescer. Veio sem escolha, sem conhecimento, sem educação. Até porque, ignorância é a melhor amiga das amarras. Mas enfim, essa é mais uma pessoa correndo na black friday da minha cabeça em outra direção. O ponto é que hoje eu floresço. Só que aí, pensando sobre o assunto, surgiu a seguinte paranóia: será que todo esse desejo sexual é apenas meu relógio biológico gritando que é hora de fazer um neném???

Ter filhos nunca fez parte dos meus planos. Eu sinto muito se você é uma das pessoas que, em pleno ano 2021, ainda se chocam com a realidade de mulheres que não possuem como principal propósito na vida serem mães, mas a verdade é que esse desejo (e me refiro aqui mais especificamente à parte biológica da questão) nunca existiu. Gerar uma vida em mim, na minha cabeça, nunca foi uma possibilidade. Mas o fato é que eu sou uma mulher de 28 anos, e só escuto o relógio biológico gritando TIC TAC TIC TAC TIC TAC. E de repente, todo mundo virou um mundo de possibilidades.

Não canso de me surpreender em como a gente muda com o tempo, então observar essas mudanças em mim é sempre engraçado, curioso, quase que um estudo comportamental mesmo. Perceber que hoje eu vejo o mundo numa paleta de corpos, cheiros e gostos é, pra mim, ousado e interessante. E é, além de tudo, "errado". É socialmente inaceitável abraçar a selvageria do desejo feminino. É quase que pecado desromantizar o sexo. Mulheres livres na sua própria sexualidade são, ainda hoje, vistas como libertinas e depravadas, profanas, sem valor, entre tantas outras coisas.

No fim das contas, eu não sei se meus desejos são só reflexo da libertação de anos de hormônios ingeridos que limitavam a libido (entre outras coisas), se são respostas do corpo que vê a idade batendo na porta e insiste em se manter vivo de todas as formas, ou se é só aquela boa e velha vontade de chocar o mundo. Mas algo que sei, com certeza, é que me jogo em partes de mim que ardem, que pulsam, que inflamam, e que me libertam. Eu quero uma vida de liberdade!

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